sábado, 10 de agosto de 2013

A Mídia Ninja: INCÔMODOS CONTRA A MÍDIA EMPRESARIAL


No programa Roda Viva, da TV Cultura, na última segunda-feira (dia 5 de agosto), foram entrevistados os representantes da Mídia Ninja, Bruno Torturra e Pablo Capilé. Minha curiosidade era grande para entender este fenômeno midiático, que assolou a internet, obrigando a grande mídia a se curvar perante às denúncias e cobertura dos ninjas. Mas os entrevistadores estavam mais preocupados em se proteger e explicar suas próprias práticas viciadas, do que debater os rumos da mídia diante do impacto das manifestações e do novo jornalismo dos ninjas.

Os jornalistas tinham ares de inquisidores, buscavam disfarçar seu incômodo. Estavam incomodados porque os ninjas profanaram o dogma do mercado e questionaram o mito da imparcialidade jornalística. A tônica dos entrevistadores era a tradicional esquizofrenia de reduzir toda a discussão a dois pontos basicamente: a) formas de financiamento; b) relações com partidos políticos. Uma tentativa de desmoralizar o debate sobre democratização da mídia, lançando dúvidas sobre a idoneidade dos entrevistados. 

Os entrevistadores não entendiam, nem queriam entender como era possível uma imprensa baseada na organização popular, assumidamente parcial e disposta a compreender que a cobertura das manifestações era um serviço à democracia. Os carcomidos jornalistas queriam apenas jogar palavras ao vento, causando um suposto sentimento de dúvidas sobre a autonomia jornalística e a transparência das contas do Fora do Eixo, entidade que garante ajuda financeira à Mídia Ninja.

Não concordo com os parâmetros do Fora do Eixo, pois acredito que a cultura deve ser pensada como política pública e não como empreendedorismo. No entanto, a condução do debate no Roda Viva era criticar o jornalismo feito pelas pessoas “comuns”, um jornalismo que não é negócio, chegando, inclusive, a levantar a ideia que nem poderia ser considerado jornalismo, já que a Mídia Ninja se baseia em coberturas espontâneas.
           
Não aceitavam que a imprensa deva ser engajada ou assumir um lado. A mitológica neutralidade é um esconderijo poderoso para as corporações midiáticas, que não se furtam de defender seus apadrinhados, sempre ligados ao grande poder econômico. A imparcialidade garante uma impressão de verdade absoluta, muito útil quando se procura escamotear a diversidade de opiniões. Alguns jornalistas, portanto, estavam representando bem seus chefes quando questionavam os ninjas.

É fato que Bruno Torturra está numa aventura com a REDE da Marina Silva, e Pablo Capilé possui relações com o PT mais próximas do que realmente afirma, mas isso não invalida em nada o debate sobre democratização da mídia e o legado deixado pela cobertura das manifestações feito pela Mídia Ninja. Mais uma vez a grande mídia quer confundir para manter as coisas como estão. Não querem que a sociedade debata a informação que é veiculada, não querem outras versões, não querem perder o monopólio da comunicação.

Mídia Ninja, na ordem: Filipe Marçal, Bianca Buteikis,
 Bruno Torturra, Felipe Altenfelder e Thiago Dezan
São interesses econômicos, assentados em poucas famílias, que garantem o revezamento de poder no país. Mexer na mídia é mexer nas oligarquias, em negócios que organizam a pauta política do país. Não querem deixar de ser o quarto poder, de receber os gordos incentivos fiscais e manter suas renovações de concessão sem que haja qualquer debate com a sociedade.

Independente dos caminhos e descaminhos da Mídia Ninja, abriu-se um debate fundamental sobre a democratização da mídia, que expressa a indignação das pessoas. Quando as ruas entoaram palavras de ordem contra a Rede Globo e vaiaram diversos canais de TV estavam de alguma forma questionando esta lógica fisiológica e comercial da mídia.  Façamos a nossa mídia!


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