No programa
Roda Viva, da TV Cultura, na última segunda-feira (dia 5 de agosto), foram
entrevistados os representantes da Mídia Ninja, Bruno Torturra e Pablo Capilé.
Minha curiosidade era grande para entender este fenômeno midiático, que assolou
a internet, obrigando a grande mídia a se curvar perante às denúncias e
cobertura dos ninjas. Mas os entrevistadores estavam mais preocupados em se
proteger e explicar suas próprias práticas viciadas, do que debater os rumos da
mídia diante do impacto das manifestações e do novo jornalismo dos ninjas.
Os
jornalistas tinham ares de inquisidores, buscavam disfarçar seu incômodo.
Estavam incomodados porque os ninjas profanaram o dogma do mercado e
questionaram o mito da imparcialidade jornalística. A tônica dos
entrevistadores era a tradicional esquizofrenia de reduzir toda a discussão a
dois pontos basicamente: a) formas de financiamento; b) relações com partidos
políticos. Uma tentativa de desmoralizar o debate sobre democratização da
mídia, lançando dúvidas sobre a idoneidade dos entrevistados.
Os
entrevistadores não entendiam, nem queriam entender como era possível uma
imprensa baseada na organização popular, assumidamente parcial e disposta a
compreender que a cobertura das manifestações era um serviço à democracia. Os
carcomidos jornalistas queriam apenas jogar palavras ao vento, causando um
suposto sentimento de dúvidas sobre a autonomia jornalística e a transparência
das contas do Fora do Eixo, entidade que garante ajuda financeira à Mídia
Ninja.
Não
concordo com os parâmetros do Fora do Eixo, pois acredito que a cultura deve
ser pensada como política pública e não como empreendedorismo. No entanto, a
condução do debate no Roda Viva era criticar o jornalismo feito pelas pessoas
“comuns”, um jornalismo que não é negócio, chegando, inclusive, a levantar a
ideia que nem poderia ser considerado jornalismo, já que a Mídia Ninja se
baseia em coberturas espontâneas.
Não
aceitavam que a imprensa deva ser engajada ou assumir um lado. A mitológica
neutralidade é um esconderijo poderoso para as corporações midiáticas, que não
se furtam de defender seus apadrinhados, sempre ligados ao grande poder
econômico. A imparcialidade garante uma impressão de verdade absoluta, muito
útil quando se procura escamotear a diversidade de opiniões. Alguns
jornalistas, portanto, estavam representando bem seus chefes quando
questionavam os ninjas.
É fato que
Bruno Torturra está numa aventura com a REDE da Marina Silva, e Pablo Capilé
possui relações com o PT mais próximas do que realmente afirma, mas isso não
invalida em nada o debate sobre democratização da mídia e o legado deixado pela
cobertura das manifestações feito pela Mídia Ninja. Mais uma vez a grande mídia
quer confundir para manter as coisas como estão. Não querem que a sociedade
debata a informação que é veiculada, não querem outras versões, não querem
perder o monopólio da comunicação.
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Mídia Ninja, na ordem: Filipe Marçal, Bianca Buteikis,
Bruno
Torturra, Felipe Altenfelder e Thiago Dezan
|
São
interesses econômicos, assentados em poucas famílias, que garantem o
revezamento de poder no país. Mexer na mídia é mexer nas oligarquias, em
negócios que organizam a pauta política do país. Não querem deixar de ser o
quarto poder, de receber os gordos incentivos fiscais e manter suas renovações
de concessão sem que haja qualquer debate com a sociedade.
Independente
dos caminhos e descaminhos da Mídia Ninja, abriu-se um debate fundamental sobre
a democratização da mídia, que expressa a indignação das pessoas. Quando as
ruas entoaram palavras de ordem contra a Rede Globo e vaiaram diversos canais
de TV estavam de alguma forma questionando esta lógica fisiológica e comercial
da mídia. Façamos a nossa mídia!
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