A realidade pode ser mais dura do que a ficção. No Centro
de Pesquisa da Petrobrás (Cenpes), três trabalhadores de uma empresa que presta
serviços à estatal foram retirados em camburão do trabalho e processados
criminalmente. Um deles, Cláudio Charles Gonçalves, de 33 anos, está desde
terça (28) preso na 54º DP, em Belford Roxo. Hoje (29) seria transferido para o
presídio de Bangu. O crime cometido? Tentou levar para casa um frango jogado no
lixo. Eles trabalham para a firma Ultraserve, contratada pela Petrobrás e
responsável por servir as refeições no restaurante do Cenpes.
A retirada dos três rapazes do seu local de trabalho em
camburão, diante de todos os colegas, aconteceu no dia 19 de julho. Diogo
Cardoso, 27, também processado, é um jovem magro, de olhar assustado. Ele
relatou que uma de suas funções na Ultraserve é recolher os sacos de lixo para
descarte. Disse que as normas da Anvisa são muito rigorosas e os frangos,
depois de descongelados, quando não aproveitados na refeição, são sempre
descartados, “pois não poderiam ser congelados novamente”.
Assim, teria achado um desperdício aquele descarte. Com o
produto já no lixo – dois ou três frangos – achou que não haveria problema em
dividir aqueles restos de comida com um amigo. Foi o que fez, dividindo o
descarte com Cláudio Charles, que no momento está preso. Segundo a sua esposa,
ele está muito abalado emocionalmente, “por causa da vergonha a que está sendo
submetido”.
O amigo Diogo – ambos são vizinhos na localidade de Nova
Aurora, em Belfort Roxo – só não foi para a cadeia esta semana, porque não
estava em casa quando a polícia chegou, a mando da Ultraserve, com ordem de
prisão preventiva. O que não impediu sua esposa de passar por momentos de
tensão, quando a polícia adentrou pela sua casa. Aos 27 anos de idade, Diogo já
tem três filhos, um deles com necessidades especiais.
O terceiro trabalhador processado criminalmente pela
Ultraserve é Marcos Paulo, de 24 anos, residente numa comunidade em Caxias. Ele
trabalhava em outro restaurante do Cenpes, quando foi detido. Seu crime foi
tentar levar para casa, achando que dava para aproveitar, “algumas barrinhas de
chocolate quebradas e amassadas e um pouco de iogurte fora da validade”.
Se hoje Marcos Paulo não está detido em Bangu, preso
preventivamente como se fosse um perigoso fora da lei, é porque não estava em
casa, no momento em que a polícia chegou à casa de seus pais com a ordem de
prisão.
O Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro
(Sindipetro-RJ) denunciou há cerca de um mês, em editorial publicado no jornal
Surgente, o absurdo daqueles processos criminais. Na ocasião, o sindicato já
exigia providências da Petrobrás contra o que considerou um abuso de autoridade
e desrespeito aos trabalhadores.
Mas, na terça (28), recebe uma notícia ainda mais inusitada:
é decretada a “prisão preventiva” dos trabalhadores, a pedido da Ultraserve. Em
apoio às vítimas dessa arbitrariedade, o sindicato indicou um advogado para
acompanhar o caso. O mais ilógico é que as leis em vigor jamais condenariam à
prisão três trabalhadores de ficha limpa, por tentar levar para casa ninharias
destinadas ao lixo. A prisão preventiva deveria estar reservada a bandidos
perigosos que ameaçam a sociedade.
Na manhã desta quarta (29), os trabalhadores da Ultraserve
fizeram uma paralisação no Cenpes, em solidariedade aos colegas injustados.
Representantes do Sindipetro-RJ se reuniram com a gerência de Recursos Humanos
(RH) do Cenpes e aguardam providências. O advogado que vai defender os
trabalhadores dará entrevista à TV Petroleira, ao vivo, na próxima
segunda-feira, 3 de setembro, às 19 horas) – o endereço eletrônico é
tvpetroleira.tv
Fonte: Agência Petroleira de Notícias
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