Comboio Classista de Solidariedade/ CSP - CONLUTAS |
"FRIBURGO É UMA CIDADE OPERÁRIA. QUEM MORA NAS ENCOSTAS É POVO TRABALHADOR!", diz Renatinho.
Na década de 90 - início da era neoliberalista de FHC - grandes indústrias da cidade transferem seu parque - metalúrgico e textil - para estados e países com mão de obra mais barata e maiores incentivos fiscais.
Surge, a partir dai, a indústria de moda íntima, de fundo de quintal, formada por trabalhadores desempregados. Deu certo. O governo, bancos, SEBRAE e FIRJAN começam a apostar - incentivando a legalização - da mais nova economia, capaz de tirar a cidade do buraco.
MÃO DE OBRA BARATA DO INTERIOR
A indústria da moda íntima não requer mão de obra especializada nem treinamento de custo elevado. O treinamento de uma costureira é feito na própria confecção. Isso contribui para que os salários permaneçam no patamar do mínimo. Hoje, uma costureira sindicalizada recebe um salário de 560 reais por oito horas de trabalho.
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treinamento na própria confecção |
" Sou nascida em Macuco. Vim pra morar em Friburgo faz mais de vinte anos. Lá em Macuco não tem emprego. Salário com a carteira assinada você não acha. Sou da roça e estudei pouco, só até a segunda série. Depois fiquei sem escola perto de casa. Morei e trabalhei em Cantagalo, numa casa de família por 8 anos, mas lá ninguém paga salário mínimo. Hoje, trabalho na confecção, faço faxina e ganho como doméstica um salário. Vou fazer treinamento pra costureira, será que ainda consigo? Estou velha, 52 anos. Meus filhos gostam daqui por causa da escola e das festas. Tem dois estudando e um trabalhando na entrega de gás. Ganha salário também. Moro em casa alugada, pago 300 por mês. Fui procurar o "minha casa, minha vida", mas tem que ter renda maior." declara Dona Eunice, Nicinha, como gosta de ser chamada.
" Você começa limpando, separando e embalando as peças. Se, mostrar interesse, a chefe te coloca para treinar no horário do almoço e do lanche, sempre que tiver uma folguinha, ou se faltar alguém. Depois que você está treinada passa para as máquinas. Não é difícil. É só querer de verdade que você consegue! Como costureira se ganha mais. O salário do sindicato é 560 e mais o prêmio de 100 para não faltar.Também faço hora extra. Todo mundo faz! Moro aqui perto, não pago passagem e almoço na confecção. Pago 200 para meu filho ficar numa creche. " diz Camila, 19 anos, costureira e mãe solteira de um menino com 2.
foto do Bairro Jardim Ouro Preto |
Os moradores das áreas de risco, na sua maioria, pessoas vindas de outros municípios, são mão de obra da indústria de moda íntima, da construção civil e do comércio. Sem geração de trabalho em suas cidades de origem, famílias se deslocam na tentativa de criar seus filhos em condições melhores de trabalho e educação. Uma vez na cidade, formam um grande contingente de mão de obra barata - sem especialização - gerando lucros para os empresários e comerciantes da cidade.
PEQUENOS E MÉDIOS EMPRESÁRIOS INVESTEM NAS FACÇÕES PARA PAGAR MENOS IMPOSTOS
Para não ter que registrar todos os funcionários, pequenos e médios empresários, utilizam o sistema de facção - colocando máquinas e insumos na casa de costureiras - terceirizando o serviço das muitas confecções sem registro. Muitas dessas facções, alojadas em casa ou no fundo do quintal são responsáveis por empregar toda uma mesma família. Nos desabamentos e nas enchentes, essas pessoas ficaram sem casa, sem trabalho, sem nenhuma garantia ou direito trabalhista.
"A Tragédia apenas começou com as chuvas e desabamentos. Ela se estende na quantidade enorme de pessoas que ficarão desassistidas. Há um ano os desabrigados de Angra lutam para morar dignamente e terem de volta o que perderam. Os desabrigados de Niterói, - do Bumba e outros locais da cidade -, estão voltando para as áreas de risco por não terem lugar para morar. Só 1/3 dos 11 mil desabrigados de Niterói, recebe o Morar Seguro, projeto do Sérgio Cabral, que coloca na mão das pessoas - 400 reais -, sem recebimento certo e sem garantia de nada! A prefeitura de Niterói nada faz, só administra e repassa aquilo que o estado dá. Uma vergonha! O prefeito declarou para imprensa que está construindo 4.380 casas, onde? Alguém sabe, alguém viu? Está se criando um exército de desassistidos! Seres humanos que pagam, com muita dor, a conta do descaso e da irresponsabilidade dos gestores desse país!" fala Renatinho (PSOL)
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